Fala Werneck

entrevista

Boa tarde, Andreia!

 

Conte-nos um pouco sobre você.

Sou uma apaixonada por literatura, principalmente a infantil. Além de escritora, sou bacharel em filosofia, poetisa e designer. Publiquei seis livros infantis e participei de muitas antologias poéticas, inclusive, em Portugal. Sou casada com o ilustrador Ed Soares e moramos no Rio de Janeiro.

Deve ser muito interessante ser casada com uma pessoa que atua profissionalmente em uma área conectada à sua. 🙂

 

Poderia falar sobre os livros que já publicou?

Publiquei seis livros infantis. Alguns muito fofos, como “Melina e as Borboletas Noturnas” (pela editora Panóplia, ilustrado pelo Ed Soares) e “Berenice, a Cacatua” (pela Katzen editora, ilustrado por mim). Em 2016, criei uma coleção para as crianças, com lendas pouco conhecidas do nosso folclore. Assim, nasceram os livros “A Velha Pisadeira”, “Corpo Seco” e “Quibungo” (todos pela editora Panóplia e ilustrados pelo Ed Soares). Meus livros infantis têm como características principais a poesia e o humor, além de pitadas de filosofia.

Muito interessante a sua proposta literária, trabalho com literatura infantil e sei a importância de trabalharmos o nosso folclore, especialmente quando nos deparamos com tantas crianças que sabem tão pouco da nossa cultura local. 

 

Em sua opinião, o mercado editorial brasileiro atua e reage diferente com a publicação de livros físicos e digitais?

Sim, com certeza observo uma diferença significativa no tocante à publicação de livros físicos e digitais pelo mercado editorial. Para começar, não temos dados consistentes de vendas de e-books. Parece que, no Brasil, nem o mercado editorial, nem os próprios leitores, conseguiram se adaptar – pelo menos ainda não – aos livros digitais.

 

O que você pensa sobre a publicação de livros infantis em formato de e-book?

Por experiência própria, posso dizer que livros infantis digitais não foram capazes de substituir os físicos. A procura é quase nenhuma. Tanto os pais, quanto as crianças, ainda preferem o livro tradicional. Talvez por causa das configurações visualmente muito atrativas, de diversos tamanhos e texturas, que o formato digital não é capaz de reproduzir.

Sim, as crianças que gostam de ler buscam constantemente histórias com ilustrações bem coloridas e os livros com dimensões maiores, esses fatores costumam representar a preferência geral.

 

Você acredita que as bibliotecas infantis deveriam ser mais receptivas aos livros digitais, ou é algo que não funcionaria?

Seria interessante ter acesso, também, aos livros digitais nas bibliotecas infantis. Pois a experiência virtual é completamente diferente. No entanto, talvez isso não aconteça porque a chamada para o mundo virtual já seja grande para criança e adolescente no dia a dia. Então, as bibliotecas resgatam esse contato com o papel.

 Sim, a biblioteca tenta resgatar não apenas o contato com o papel, mas construir o próprio hábito da leitura. Infelizmente, boa parte das crianças não possuem incentivo dentro de casa para a leitura. Muitos pais não gostam de ler, outros não possuem interesse, e tudo isso acaba sendo prejudicial para a criança. Mas, continuamos tentando incentivar, tanto filhos quanto pais.

 

O que você acha que vai acontecer com o mercado, diante dessa crise enorme com livrarias fechando e grandes redes entrando com processo de recuperação judicial? Qual seria a melhor maneira de lidar com a transformação do mercado?

O mercado está passando por uma grande transformação. As livrarias estão sendo forçadas a rever seus espaços físicos, sua forma de lidar com o leitor e também com os autores. Grandes livrarias parecem resistir devido à mudança em suas lojas, transformando-as, também, em locais de encontros e eventos, com cafés e, até, pequenos restaurantes.

 

Qual será o futuro dos escritores brasileiros?

Sinceramente, vejo um futuro bem democrático e acessível para o autor brasileiro. Hoje em dia, com tantas editoras e gráficas editoriais oferecendo a autopublicação e a publicação sob demanda, qualquer um pode realizar o sonho de ser escritor.

 

Como será o leitor brasileiro do futuro?

Pela grande quantidade de livros disponíveis no mercado e o acesso fácil à informação, o leitor brasileiro está ficando cada vez mais crítico e exigente. E isso tende a ficar ainda mais evidente com o passar do tempo.

 

Para você, existe literatura boa e ruim?

Sim, pra mim existe literatura boa e ruim, mas não em relação ao gênero ou estilo e sim à escrita. Só que essa classificação também é muito subjetiva e depende do gosto pessoal e nível de exigência de cada um. Até os “piores” livros podem encantar alguns leitores. Da mesma forma que os clássicos e consagrados, excepcionalmente bem escritos, não conseguem agradar a todos.

 Com certeza.

 

Agora, vamos comentar alguns gostos mais pessoais. Qual seu gênero literário preferido? E qual é o que menos gosta?

Sou bastante eclética, mas geralmente prefiro mais a fantasia. Não aprecio muito as biografias.

 Também não consigo gostar muito das biografias. Rs

 

Qual é o seu autor favorito?

Falar sobre um autor favorito é muito complicado pra mim porque, como eu aprecio vários gêneros, possuo praticamente um autor preferido em cada um deles. Na literatura infantil, por exemplo, amo Monteiro Lobato. No terror, Edgar Allan Poe. Na distopia, George Orwell. E por aí vai…

Grandes nomes…

 

Qual é o seu maior hábito de escrita?

Atualmente, meu maior hábito de escrita é escrever algo todos os dias. Nem que seja apenas um parágrafo.

 

Já está planejando seu próximo livro? Pode nos contar um pouco sobre o projeto?

Sim, tenho dois livros infantis para serem lançados. “Béé daqui, Béé dali”, pela editora Panóplia, que tem como personagem a menina Maria, que começou a contar ovelhas para dormir e foi surpreendida por algo mágico e “Corda, Cordão e Muita Imaginação!”, que está disponível atualmente como e-book, na Amazon, e terá, em breve, sua versão física, também pela editora Panóplia. Os dois serão lançados até junho deste ano.

 Espero que muitas crianças leiam e gostem!

 

Atualmente, qual é o seu sonho?

Viver somente da literatura. Seria pedir muito? (risos)

 Não, rs. Seria um sonho. 🙂 E acredito que é possível.

 

E para finalizar, indique-me um livro.

“O Ponto Cego”, de Lya Luft, foi uma das leituras que mais me tocaram. Principalmente pela extrema delicadeza e sensibilidade da autora ao tratar de um assunto tão denso. A obra é comovente, envolvente e memorável. Recomendo.

Vou anotar a sugestão. Obrigada pela dica.

Obrigada pela entrevista, Andreia! Foi bom conversar com uma pessoa que trabalha com livros infantis, e espero muito sucesso da nossa parceria que está começando. 

 

Trabalho diariamente com literatura infantil e através dos posts comentando seus livros, poderei expandir alguns assuntos do blog para outros temas que também são importantes para mim. 

 

A literatura tem a capacidade de transformar vidas, e acredito verdadeiramente no poder do hábito da leitura com as crianças. Em uma era digital como a que vivemos, é importante que as crianças aprendam a imaginar com as palavras, com o pensamento, que elas consigam desenvolver o senso crítico e a expressividade pessoal através da construção de seus próprios gostos. A leitura ajuda a infância em muitas coisas, seja na criatividade, na escrita, na fala e até na construção do pensamento. Espero que cada vez mais crianças percebam e valorizem o poder das palavras. 

 

Muito sucesso para você e que seus livros consigam aproximar pais e filhos durante os momentos de leitura.

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