Fala Werneck

entrevistacomescritora

 

Boa noite, Igraínne!

 

Conte-nos um pouco sobre você.

Resposta: Eu nasci no verão de 1993, no Rio de Janeiro. Por causa disso, minha infância inteira eu praticamente passei na praia, o que me fez amar o verão. Mas minha outra paixão, além do sol, é claro, eram os livros. Minha mãe é professora e, para ela, sempre foi muito natural incluir a leitura no nosso dia a dia. Para completar, minha família inteira é do magistério, o que implica em fazer carreata para a Bienal do Livro do Rio com a famosa “malinha”, rsrs. Não à toa, acabei me formando em Letras pela Uerj e depois fiz uma segunda graduação: Jornalismo, agora na UFRJ. Atualmente trabalho na própria universidade e em uma empresa tradicional de jornalismo.

 

Poderia falar sobre os livros que já publicou?

Resposta: O primeiro livro que publiquei foi “Joana e Maurício”, em versão física. Depois que ele esgotou, resolvi investir na era dos e-books, porque é uma plataforma que facilita o contato com os leitores, por ser online. Eu sempre escrevi, desde que me lembro, então, mesmo que “JM” tenha sido o primeiro a ser publicado, ele não foi o primeiro a ser escrito. Eu sempre tive uma forte tendência para a fantasia, então costumo dizer que o romance de Joana e do Maurício foi uma exceção. Eu escrevi “Caçadores de Tempestade” antes de JM, por exemplo, mas ele precisou ser reescrito diversas vezes. É uma fantasia urbana e eu provavelmente seria capaz de reescrevê-lo novamente, tamanha a minha exigência. Depois dele, entrei na história de “Unicórnios: a outra dimensão”, um infanto-juvenil que une a voz de seis autoras brasileiras diferentes. E, por último, escrevi “Entre a Cruz e a Espada”, uma novela inspirada na Esmeralda, personagem de “O Corcunda de Notre Dame”. Esse livro em específico é menor que os demais e faz parte da antologia Femme Fatale, um projeto idealizado pela minha agência, a Increasy, com o objetivo de recontar a história de grandes heroínas da literatura sob uma ótica mais girl power. Por incrível que pareça, essa última também não é uma fantasia, mas um suspense.

 

Em sua opinião, o mercado editorial brasileiro atua e reage diferente com a publicação de livros físicos e digitais?

Resposta: Acho que sim, mas não de uma maneira preconceituosa, pelo menos não inicialmente. Enxergo o mercado literário, hoje, como um ambiente democrático. Todo mundo pode escrever e publicar a própria história. Não só isso: se fizer bem e investir em algum marketing, pode até tirar um dinheiro. Mas isso é no campo digital. Já no campo físico, a coisa caminha para outro lado, de modo que a editora tradicional é mais distante, mais difícil de alcançar, embora não impossível. Costumo dizer que começar com um Wattpad ou um e-book, por exemplo, é uma espécie de degrau para o tão sonhado espaço de destaque na livraria de shopping: se fizer sucesso em uma mídia, pode ser que você consiga chamar a atenção de uma editora tradicional e, assim, seja possível tornar seu livro físico. O ambiente digital não precisa ser um plano B; muito pelo contrário: pode e deve ser visto como uma porta de entrada. É nele, aliás, que os autores conseguem mais facilmente receber o feedback de leitores.

 

Qual será o futuro dos escritores brasileiros?

Resposta: Acredito que, atualmente, diante da crise econômica, existe um espaço maior para o escritor brasileiro do que para o estrangeiro: é mais barato publicar gente do próprio Brasil. Por outro lado, talvez por causa de uma cultura que acaba menosprezando o que nós mesmos produzimos, muitas vezes vender nacional é mais difícil que vender estrangeiro, o que se torna uma via de mão dupla. A longo prazo, eu acredito que o autor brasileiro ganhe, sim, cada vez mais espaço, mas não como uma forma de competir com o escritor já consagrado lá de fora, mas como alguém capaz de ser tratado de igual para igual. Eu tento pensar positivo.

 

Como será o leitor brasileiro do futuro?

Resposta: O leitor novo, aquele que costuma surgir para alavancar o mercado literário, em geral advém de ondas de grandes sucessos. Isso tem muito a ver com novas gerações, com leitores jovens que continuam lendo conforme a vida vai passando. Acho que o leitor deve seguir esse fluxo, embora o advento de dispositivos de leituras, como o Kindle, o Kobo, ainda não seja uma realidade para muitos brasileiros. O livro físico já é considerado caro, em especial em tempos de crise, então, por mais que a gente note um avanço da leitura digital lá fora, acho que esse caminho será mais demorado por aqui. Deve demorar mais, mas ainda acredito que, em algum futuro, teremos mais possibilidades e mais leitores. Mas depende do tempo, do fim da pandemia e da crise, da educação, de uma série de fatores que podemos apenas supor, não garantir. Eu tento pensar sempre positivo, embora com o pé atrás. Ahhaha.

 

Para você, existe literatura boa e ruim?

Resposta: Eu não diria boa ou ruim. Acho que existem livros direcionados a públicos-alvo específicos, de modo que, se eu leio um livro de programação de sistemas, por exemplo, posso vir a achar chato/difícil/ pouco didático. Isso não significa que o livro seja ruim, apenas que não foi feito para me atingir, porque não faço parte do “escopo” daquele público. Precisamos, sim, tomar cuidado com gramática, pontuação, sintaxe, mas existem casos em que erros de inadequação do português não são exatamente “erros”, mas sim inadequações. Erro absoluto é casa com Z, por exemplo. Dentro de um livro, tudo que foge do erro absoluto pode ser chamado de licença poética, por exemplo. Existe, sim, a literatura pela qual eu me atraio mais, mas também existe a literatura pela qual eu não me interesso, pelo menos por enquanto. Nem por isso ela precisa ser ruim. Existem vários fatores que implicam na qualificação de um livro como bom, excelente ou ruim. A maior parte deles, com exceção de casa com Z, são julgamentos que partem de juízos de valor. Eu aprendi muito sobre isso não apenas com o feedback que recebo dos leitores, mas também com a percepção de que um livro não precisa, necessariamente, sequer ser o meu tipo de “bom livro”. Ele só precisa ser vendável, essa é a verdade. Se ele for comercial, acredito que seja o chamado “bom”.

 

Agora, vamos comentar alguns gostos mais pessoais. Qual seu gênero literário preferido? E qual é o que menos gosta?

Resposta: Eu realmente gosto de fantasia, como eu disse. Entendo que a maior parte disso se deve ao fato de que minha geração foi marcada por Harry Potter, mas percebo agora que prefiro que a fantasia tenha algum tipo de romance. O gênero que menos gosto é o terror. Não por achá-lo fraco, inferior ou nada do tipo, mas porque eu sofro de uma coisa chamada medo. Li alguns quando era mais jovem e tive problemas para dormir depois, de tão bem escritos. Depois disso, entendi que não eram para mim, ahahaha.

 

Qual é o seu autor favorito?

Resposta: Eu tenho muitos autores favoritos. Eu gosto muito da Lispector, mas acho que é por causa da minha formação. Eu admiro o David Nicholls, por ser capaz de criar romances críveis, e gosto, olha só, dos Irmãos Grimm. É uma resposta boba, mas a genialidade dos contos é algo que as pessoas subestimam demais, acho. Costumam lembrar mais da Disney quando falamos de contos de fadas, o que sequer é um demérito, uma vez que prova que as histórias se eternizaram, mas acho que o interesse pelos contos originais poderia ser o mesmo. Às vezes fico triste por não acontecer, ahaha. Entre os novos nomes da literatura nacional, admiro muito Lola Salgado e Clara Savelli. 😊

 

Você prefere livros físicos ou digitais?

Resposta: Por uma questão de espaço e dinâmica de leitura, atualmente tenho preferido os digitais. Mas, por outro lado, fico lamentando bastante por isso implicar em uma ausência de autógrafos. Não dá para assinar o Kindle, hahaha. Talvez essa minha preferência mude em algum momento (eu mudo com frequência ahaha).

 

Qual a sua leitura atual?

Resposta: FINALMENTE estou dando uma chance para “Corte de Espinhos e Rosas”. Acabei de passar da página 100, então estou com algumas expectativas. Eu tento ao máximo acompanhar os grandes sucessos literários de fantasia, então esse é o da vez.

 

Qual é o seu maior hábito de escrita?

Resposta: Eu tenho um problema com formatação, ahahaha. Em geral, não consigo escrever em qualquer outra fonte que não seja a Times New Roman, de preferência no tamanho 12. E ah, prefiro que seja espaçamento simples. Recentemente eu passei a escrever sempre no drive, por uma questão de facilidade na hora de salvar, também – inclusive, indico fortemente.

 

Já está planejando seu próximo livro? Pode nos contar um pouco sobre o projeto? 

Resposta: Eu acabei de terminar um livro em parceria com a Francine Cândido, outro suspense no estilo girl power, mas com algum realismo mágico no meio. É uma história só, com duas protagonistas, que se alternam na narração. O livro deve sair em formato físico no ano que vem. Além desse, que já está pronto, pretendo terminar um projeto pessoal meu sobre viagem no tempo (mas no estilo de fantasia, não de ficção científica). Acabei parando esse por causa do livro com a Fran e por causa do meu TCC de jornalismo, que vou defender ainda em dezembro desse ano. Quando essa entrevista sair, já terei defendido, aliás, ahahaha. Espero ter me saído bem (risos nervosos).

 

Atualmente, qual é o seu sonho?

Resposta: É viver de escrita. Infelizmente, no Brasil, isso não é uma realidade para quase ninguém. Esse sempre foi meu sonho, aliás, porque eu escrevo desde que me entendo por gente. Lembro de, quando criança, me empoleirar nas estantes das livrarias e virar a orelha da quarta capa dos livros nacionais – para tentar descobrir no que os autores se formaram. Eu queria me formar naquilo também, fosse o que fosse, porque entendia que aquelas profissões me permitiriam chegar às estantes exatamente como eles. Hoje eu percebo que a coisa não é bem assim, que a maior parte dos escritores que colocavam (e colocam) a formação nas orelhas dos livros são, na verdade, profissionais daquelas profissões, atuam naquilo, sendo a literatura uma segunda ocupação. Eu queria poder viver só de literatura, queria mesmo. Não sei se um dia eu consigo, mas se eu conseguir chegar a uma editora, já estou mais do que feliz. Um passo de cada vez, né? Ahaha.

 

E para finalizar, indique-me um livro.

Resposta: O meu queridinho da vez é um sobre tempo também, um de fantasia que descobri durante minhas pesquisas para o meu próprio livro: “Everless”, publicado pela Morro Branco com o título original. É jovem adulto, mas tem uma construção tão perfeita que sou incapaz de colocar um defeito. Eu gostaria inclusive de ter escrito essa genialidade, ahahahahhaa. Leiam, por favor, as pessoas não deram a devida atenção quando ele foi lançado.

 

Muito obrigada pela conversa!

Vou anotar e procurar todas as suas indicações. 🙂

E já estou curiosa com o livro que você escreveu com a Francine, gosto muito da escrita de vocês duas!

Estarei torcendo para que você realize o seu sonho e depois quero saber sobre o TCC, hein?!

Espero ler em breve outros livros seus!

🙂

 

 

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