Fala Werneck

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Boa tarde, Maurício!

 

Conte-nos um pouco sobre você.

Sou nascido em São Paulo, mas moro em Brasília. Além de escritor, sou roteirista e músico. Tenho 7 livros lançados e outros dois já mais ou menos escritos. Só tem uma coisa de que gosto mais do que livros: minha família.

Sim, a família é realmente importante.  🙂

 

Poderia falar sobre os livros que já publicou?

Publiquei 7 livros, 4 independentes e 3 por editoras. Os independentes foram “O Mundo de Vidro”, “Ainda não te disse nada”, “O rosto que precede o sonho” e “Dias melhores pra sempre”. Já os publicados por editoras foram “A máquina de contar histórias” (Novo Conceito), “Surpreendente!” (Intrínseca) e “Todo o tempo do mundo” (Astral Cultural). Agora em 2019 um dos independentes, o “Ainda não te disse nada” sairá pela Qualis Editora (provavelmente na Bienal do Rio), totalmente reformulado. O Surpreendente! foi lançado em Portugal, Itália, Espanha e Lituânia. Já o Todo o tempo do mundo sairá ano que vem na Alemanha.

Surpreendente é um livro incrível, Ainda não te disse nada é um livro que fala muito sobre empatia, e me inspirou a criar um dos projetos aqui do blog, e Todo o tempo do mundo é absolutamente tocante e envolvente; você construiu uma narrativa de viagem no tempo com um olhar reflexivo muito interessante. Mal posso esperar para ler suas outras histórias também… 

 

O que você pensa sobre o mercado editorial no Brasil? Existem oportunidades para novos escritores ou é um grupo mais fechado?

Acho que o Brasil ainda tem um potencial enorme para se transformar num grande mercado. Quando se observa que o nível de leitura ainda é baixo, isso significa que há espaço para crescimento, e com políticas corretas de incentivo à leitura, isso pode ocorrer. Não posso opinar muito sobre o “por dentro” das editoras, o porquê de escolherem determinados livros para lançar, quais suas estratégias de marketing e de vendas, porque não sei mesmo. Também não sei de números, ainda que saiba que há uma crise no mercado. Mas toda crise vai e vem. Uma hora essa vai acabar. E o que devemos fazer, como autores, é escrever cada vez mais. E acho que há oportunidade para novos autores, até porque eu mesmo sou egresso do mercado independente.

 

Em sua opinião, o mercado editorial brasileiro atua e reage diferente com a publicação de livros físicos e digitais?

São duas plataformas do, em essência, mesmo produto. Claro que as estratégias têm que ser diferentes, mas, ao que parece, a venda de livros físicos ainda é bem maior. Pelo que observo dos meus livros, isso é verdade. Talvez o brasileiro ainda não tenha se acostumado com a leitura digital. No fundo, não tenho muita preocupação com o “onde” a pessoa vai ler, desde que leia. E acho que as editoras ainda vão achar o pulo do gato para trabalhar melhor com o digital, é um caminho sem volta.

Sim, também torço para que os brasileiros leiam cada vez mais, esse é um dos objetivos principais do blog, incentivar essa atividade linda, prazerosa e inspiradora que é a leitura.

 

O que você acha que vai acontecer com o mercado, diante dessa crise enorme com livrarias fechando e grandes redes entrando com processo de recuperação judicial? Qual seria a melhor maneira de lidar com a transformação do mercado?

Só posso responder como escritor, e o que faço é continuar escrevendo. Não consigo imaginar o que virá depois, se vão abrir novas redes de livrarias, se vão todas acabar ou se ficaremos só com o digital. Quem vai dizer? Desde que o mundo é mundo contam-se histórias, e elas irão sobreviver.

 

Qual será o futuro dos escritores brasileiros?

Muitos amigos que começaram comigo já pararam. Ao mesmo tempo, novos escritores vão surgindo. O futuro vai se ajustar, as pessoas vão continuar escrevendo e consumindo histórias. Não acho que vá mudar. As oportunidades de aparecer são cada vez maiores, e quem contar boas histórias vai se sobressair. Sempre foi assim.

 

Como será o leitor brasileiro do futuro?

A competição com a internet é pesada. Vejo por minha filha pequena, a luta que tenho para incutir nela o gosto pela leitura. Acho que o leitor brasileiro do futuro será igual aos leitores do mundo todo no futuro, cada vez mais conectados. Puxando brasa para nossa sardinha, só espero que o leitor brasileiro leia cada vez mais literatura feita por brasileiros. Há muita gente boa contando histórias e muito preconceito ainda.

Essa é realmente uma questão que deve ser debatida com mais frequência, os brasileiros tendem a menosprezar um pouco a literatura nacional, considerando-a inferior às estrangeiras… Mas isso é um erro, nossa literatura possui muitas belezas, e existem escritores nacionais (antigos e novos) repletos de talento e de boas histórias.

 

Para você, existe literatura boa e ruim?

Acho que existem livros bem e mal escritos, e aqui falo de erros de gramática, de coesão, de estrutura narrativa, de histórias que se perdem e personagens pouco carismáticos ou relevantes. Já quanto aos gêneros, o gosto é de cada um, não posso julgar o que uma pessoa vai gostar ou não, porque não conheço intimamente ninguém, nem eu mesmo. Se um livro é um “romanção basicão” e toca as pessoas, por que esse livro seria literatura ruim? Ao mesmo tempo, aquele livro supercabeça que eu tento ler e não entendo nada, ou que no meio da página já estou pensando na morte da bezerra, por que seria considerado literatura boa?

Resumiu muito bem a questão de livros “bons” e “ruins”…

 

Agora, vamos comentar alguns gostos mais pessoais. Qual seu gênero literário preferido? E qual é o que menos gosta?

Gosto de drama. Romances dramáticos e românticos. Não curto muito livros de autoajuda.

 

Qual é o seu autor favorito?

Esta pergunta é impossível de responder… rsrsrs. Se for preciso apenas um nome, eu citaria eu mesmo, que é o autor que eu mais conheço, critico, de quem mais reclamo e cujas histórias são mais “minhas”! E agora que já achei um, restam-me Montaigne, Graciliano, Luís Fernando Veríssimo, Hemingway, Nick Hornby, Joel Dicker, Salinger…

 

Qual é o seu maior hábito de escrita?

Escrever diariamente, entre 5h00 e 9h00, com um leite bem quente e de fone no ouvido, sempre rock and roll.

 

Todo o tempo do mundo é um livro repleto de sensibilidade e amor, e tanto ele quanto Surpreendente! têm protagonistas que possuem algum problema de saúde, o que te motiva a cria-los assim?

Acho que o foco acaba sendo mais a superação de alguma questão. No caso do Surpeendente!, é a superação de algo físico mesmo (a cegueira). Já no Todo o Tempo do Mundo, é a superação de uma questão que não é um problema de saúde (a viagem no tempo). Isso de o personagem superar algo difícil, um obstáculo aparentemente intransponível, para mim é algo motivador na escrita. Eu tento me colocar na pele daquele personagem e viver intensamente o desafio. Acredito que os leitores acabem também “vestindo a sandália” e sentindo as angústias e as conquistas.

 

Você já está planejando o próximo livro? Pode nos contar um pouco sobre o projeto?

O próximo projeto é o relançamento do “Ainda não te disse nada”, que ocorrerá, ao que tudo indica, na Bienal do Rio de Janeiro, em 2019. É uma história que muita gente já gosta, mas que virá ainda mais forte. Quanto a um livro novo, estou escrevendo, mas não posso revelar exatamente o que é, pois estou tateando a história.

 

Atualmente, qual é o seu sonho?

Que tenhamos um país mais justo, menos desigual, em que as pessoas tenham mais solidariedade, empatia, respeito pelas opiniões dos outros, sem ódio, sem intolerância e desamor. Em que o amor vença a intolerância e o livro vença o revólver. Trocaria tudo que eu tenho por isso, pela felicidade de tanta gente que todo dia é massacrada nas esquinas por credo, raça, opção sexual ou política. Os sonhos que só me afetam não significam nada.

Sim… Vamos continuar escrevendo, conversando sobre literatura, incentivando novos leitores e assim, ajudando a construir um país do qual possamos nos orgulhar.

 

E para finalizar, indique-me um livro.

Vou indicar 4: Surpreendente!, Todo o tempo do mundo, A máquina de contar histórias e Ainda não te disse nada.

Vou tentar ler em breve os que ainda não tive oportunidade. 🙂

 

Muito obrigada pela conversa e pela objetividade para falar de temas mais leves e mais sérios. 

Desejo que 2019 seja um ano produtivo e construtivo para todos nós!

E que novas histórias, boas e envolventes continuem presentes em nossas vidas!

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