Fala Werneck

entrevistacomescritor

Boa tarde, Guto!

 

Conte-nos um pouco sobre você.

 Sou formado em música e letras. Professor de música e violão clássico. Trabalho no projeto Guri em Lorena e Cachoeira Paulista. Tenho 41 anos, moro com minha esposa Olivia e minha filha Anna Luísa. Gosto de ler e ouvir música. Não tenho complexidades. Tento ser simples.

 

Poderia falar sobre os livros que já publicou?

São livros que falam de situações que gostaria que tivessem mais atenção das pessoas, da mídia. Sem pretensão alguma, não imagino que há vasta relevância no que escrevo, mas também acredito que não são assuntos que devemos relegar ao fantasioso, ao inverossímil.

 Já conheço alguns dos seus livros e posso garantir que possuem relevância sim! Mesmo com as características essencialmente ficcionais, a trama envolve o leitor numa reflexão sobre a importância das mídias e do pensamento crítico (que está faltando em muitas pessoas). Precisamos ler mais, ler bastante, e criticamente considerar todas as informações e notícias que recebemos. No mundo globalizado em que vivemos é relativamente fácil “criar” notícias falsas e distorcer informações. 

 

O que você pensa sobre o mercado editorial no Brasil?

Acho que tem muito o que crescer e aprender. Não falo em relação à novas mídias, como leitores eletrônicos ou celulares e tal, mas em relação ao pensamento do negócio em si. Como tenho uma experiência na indústria da música e, no fim, tudo é entretenimento. Acho que as grandes editoras, os grandes vendedores de livros nem sabem para quem estão vendendo (devem saber, mas não parece), erro cometido pelos empresários da música. Parece-me que as metas são sempre pensadas no “Efeito Manada”: Fantasia vende! Vamos publicar só livros de fantasia!! Esquece a fantasia! O que vende é hot! Hot já passou, a moda agora é New Adult! E atolam-se em milhares de títulos genéricos de histórias cheias de clichês e que cansam, provocando um tédio no leitor e transformando um monte de livros em um exército de capas que caem no esquecimento. Lembra quando sertanejo era moda e apareciam duzentas duplas caipiras? Ou a época do pagode e nos milhares de grupos parecidos? A gente se cansa da mesmice. O clichê nos conforta quando uma coisa se resolve e acalma nossa alma, mas a cada cinco páginas com uma princesa  salva ou duzentas mocinhas inocentes sendo seduzidas por empresários milionários com passado obscuro… Uma hora cansa. Aí, o empresário do ramo diz que brasileiro não lê.

 

Existem oportunidades para novos escritores ou é um grupo mais fechado?

Com as redes sociais acho que ficou mais fácil, não sei como era antes disso e nem como eu faria para desenvolver uma divulgação mais efetiva. Mas o olimpo, a grande mídia e tudo que poderia realmente impulsionar rapidamente a carreira de autores novos, ah… isso é para poucos; sortudos, talvez. Talentosos? Algumas vezes nem tanto.

 

Em sua opinião, o mercado editorial brasileiro atua e reage diferente com a publicação de livros físicos e digitais?

Acho que depende do leitor mais do que dos editores ou vendedores. Se todo mundo migrasse para o digital e desse lucro, livro físico seria obsoleto como o CD, o VHS, etc. E os empresários ficariam felizes, mas o livro ainda consegue ganhar do e-book. Os leitores nem chamam de “livro eletrônico”, se referem ao Livro-eletrônico (e-book) como PDF, como se fosse outra coisa, como se fosse menor, defeituoso: “Você tem o livro? Não, só o PDF.” Ué? Mas não é o mesmo conteúdo? A mesma história? “Só” o PDF? Aí o leitor responde: Ah… É diferente… Acho que isso que os empresários não entendem. Seria muito mais fácil trabalhar só com e-book. Mas há essa resistência romântica dos leitores. Resistência que acho ótima e concordo plenamente.

 

O que você acha que vai acontecer com o mercado, diante dessa crise enorme com livrarias fechando e grandes redes entrando com processo de recuperação judicial?

Vai reagir e se adaptar. Não vão perder dinheiro. Qualquer mercado passa por transformações e se regula. Não tenho medo de acabar. Tenho medo da Amazon. Acho que ela pode destruir a concorrência e depois, ao monopolizar o mercado, aumentar preços e acabar com essa alegria de leitores comprando dez livros por mês, gastando relativamente pouco. Um livreiro me disse que ela fez isso na Austrália: entrou no país, destruiu a concorrência e aumentou os preços.

 

Qual seria a melhor maneira de lidar com a transformação do mercado?

Estudar o perfil do consumidor de livros, entender o quanto ele está disposto a gastar com livros, aumentar o número de leitores com campanhas em escolas de nível fundamental, tentar diminuir custos, impostos, etc. E vender um produto que realmente você queira comprar. Acho que independente de qualquer estudo ou planejamento, as pessoas não devem ser tratadas como gado confinado que como o que cai no cocho. Sempre ouvi: “Não compro mais livros porque são caros.” Então vamos abaixar o preço! Então talvez o problema seja esse: o preço. Mudem o modelo na relação Editora x Loja (porque aí que está o problema) que leitores temos muitos e ávidos.           

 

Qual será o futuro dos escritores brasileiros?

Se depender da minha vontade será maravilhoso! Existem muitos, mas muitos mesmos. Todos em busca de uma oportunidade, de alguém que leia e ajude a divulgar.

 

Você aborda temas polêmicos, históricos e políticos nos seus livros. Diante disso, você considera que ainda existe preconceito com o gênero literário que você publica?

Um pouco, mas nada que não consiga mudar com cinco minutos de conversa.

 

O que você diria aos leitores que têm preconceito?

Que só podemos falar bem ou mal se lermos o livro em discussão. Claro que se o tema não lhe agrada, não entendo como preconceito, por se tratar de algo que já lhe causou estranheza em experiência anterior; mas não ler por simplesmente achar que talvez não seja do seu agrado, acho um argumento raso. Não tem como prever se vai gostar ou não. Tem que ler!

 

Como será o leitor brasileiro do futuro?

Vixe, se for pela maioria, só vai ler manchete de notícias e a sinopse ou resenha no Youtube ou Instagram. Mas tenho esperança que aprofundem mais, que saiam da zona de conforto, que entendam que a aventura literária é muito mais rica e diversa que imaginam. Ler traz informação, conforta, cura, dá ideias, melhora nossa imaginação, aprimora o pensar crítico, criativo.

 

Para você, existe literatura boa e ruim?

Não. Só separo em gostei e não gostei. Porque há a subjetividade de cada um. E assim, subjetivamente, relativiza o resultado literário. O contexto é fundamental nesse momento. O contexto vai dizer se eu gostei ou não. Mas não podemos classificar ou rotular. Isso só atrapalha a experiência. Há muitos aspectos nessa análise. Aspectos sociais, históricos, antropológicos. E se pensarmos na antropologia, a ramificação do estudo estético cria milhares de possibilidades. Mas no fim o afetivo é o que fala mais alto. Quem não lembra do primeiro livro que leu, ganhou, emprestou? Era bom? Era ruim? Para mim sempre será maravilhoso.

 

Agora, vamos comentar alguns gostos mais pessoais. Qual seu gênero literário preferido?

Olhando para minha estante deveria falar que gosto de espionagem, guerras e históricos. Mas a fantasia e a ficção científica são os gêneros preferidos.

 

E qual é o que menos gosta?

Terror. Só tenho Drácula, Frankenstein e Médico e o Monstro por que são clássicos.

 

Qual é o seu autor favorito?

Tolkien e Marcos Rey.

 Não dá pra escolher apenas um, não é mesmo? Rs.

 

Qual é o seu maior hábito de escrita?

Planejar toda a história e anotar em cadernos. Tudo escrito a mão. Após um estudo de possibilidades, sento em frente ao computador e escrevo até não encontrar saída. Isso sempre a noite e depois de pensar exaustivamente no que gostaria de ler.

 

Já está planejando seu próximo livro?

Sim. Tenho uma fantasia (Crônicas Bárbaras) em andamento. O terceiro volume da série Conspiração também em andamento e pensando ainda se o Cenas de Um Crime vai ou não ter continuação.

 

Pode nos contar um pouco sobre o projeto?

O terceiro volume da série Conspiração vai dar respostas ou não para todo o mundo de possibilidades que criei no segundo livro (A Ascensão do IV Reich), entretanto não tem como falar sem dar spoilers. Crônicas Bárbaras é minha homenagem a Tolkien, é um caminho natural. Tolkien é um modelo de autor para mim. É o que me motiva e faz escrever. O Cenas me criou um problema, porque são tantas histórias e possibilidades que não sei como vai cair no coração dos leitores. E acho que eles que vão decidir se continuo ou não.

 

Atualmente, qual é o seu sonho?

Antes, vinte e cinco anos atrás o sonho era viver de música e da música. Agora é viver da literatura. Poder dedicar tempo integral ao trabalho de escrever, criar, ler… Acho que está próximo.

 

E para finalizar, indique-me um livro.

Os meus, claro!

Todos do Tolkien, até rascunhos se encontrar. Todos de Philip K. Dick que também é um monstro, acho incrível. Mas isso só depois de você ler toda a série Vagalume e todos os clássicos brasileiros. Viva a literatura nacional! Impossível indicar um só!

Li muitos da série Vagalume na época da escola, e os do Tolkien já estão na minha lista, especialmente a trilogia Senhor dos Anéis (que está nas metas de 2019). Portanto, vou acrescentar Philip K. Dick na minha lista. 🙂

 

Guto, obrigada pela conversa, por mostrar as suas opiniões sobre assuntos tão importantes para a literatura nacional e também por falar sobre os seus livros. 

Espero que cada vez mais pessoas leiam e discutam os diversos temas abordados nos livros, especialmente nos seus sobre história, notícias e senso crítico.

Comentários (0)