Fala Werneck

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Ciclos

Uma trama forte e intensa marca esse livro que irá falar sobre violência doméstica. Um assunto grave.

Muitas mulheres em diferentes lugares do mundo sofrem de violência doméstica; para quem está de fora é muito fácil julgar a situação, condenar a mulher, culpar ambos.

O livro é angustiante, sofrido, e cruelmente realista.

Esse tipo de violência vai marcar a vida da personagem principal da história. Lily cresceu em um lar marcado pela violência doméstica, acompanhou durante toda sua infância e juventude o pai agredir a mãe. E sempre julgou a mãe por nunca ter largado o pai.

O leitor vive com a Lily os momentos de sofrimento que ela presencia em casa, mas o mais difícil e chocante é acompanhar uma pessoa que foi marcada por algo grave assim, acabar sofrendo do mesmo mal.

É triste ver como um relacionamento abusivo pode começar, mas também perceber como para quem está vivendo a situação é complicado reconhecer que a pessoa que você ama não é quem você imaginava, que essa pessoa tem um lado sombrio e monstruoso. É doloroso acompanhar as agressões se agravarem e ela ainda tentar justificar aquelas atitudes de alguma maneira, tentar se culpar pela atitude dele.

A escritora criou uma história que reflete parte do que aconteceu com sua mãe e com maestria elaborou um enredo que busca mostrar como essas situações podem ser construídas, como elas são complicadas e confusas; e especialmente, como as mulheres que passam por isso precisam de apoio e compreensão ao invés de julgamento.

São mulheres que amam, são mulheres que sofrem. E o mais importante, independente de qualquer atitude, independente de qualquer situação, nenhum homem tem o direito de agredir a mulher. Essa é uma constatação a que a personagem chega e que deve ser muito difícil, quase impossível para as muitas que sofrem reconhecerem isso; mas realmente, eles não têm o direito. Mesmo que ele estivesse com ciúmes ou irritado, nada lhe dá o direito de usar sua força e sua superioridade física para subjugar a mulher.

A mãe da Lily fala sobre algo essencial em tudo isso: os ciclos. Ciclos de violência, de aceitação, de justificativa, de desculpas. Mas esses ciclos devem ser quebrados, antes que quebre a pessoa ou alguém que ela ama mais ainda, como um filho.

Essa leitura deve ser feita por todos, e refletida com a seriedade que merece. Agressões acontecem ao redor do mundo, o tempo inteiro, e esse livro traz uma voz “fictícia” à essas mulheres que sofrem. Nem todas terão um “final feliz” mas todas merecem atenção, merecem que as pessoas façam o que puder para ajudar ou no mínimo não ignorar e fingir que nada está acontecendo. Essa voz não deve ser abafada e esquecida, ela já está sofrendo a tempo demais…

É assim que acaba tem um final, mas essa luta ainda não tem, enquanto as pessoas não entenderem que ninguém, absolutamente ninguém, tem o direito de dominar, subjugar ou agredir uma outra pessoa, mesmo que a “justificativa” seja amor. Amar não é isso.

 

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